miércoles, 25 de marzo de 2009

Andrés Di Tella. O festival dos sonhos


Por Rafael Urban*

Um dia o telefone tocou. O toque, a campainha que imitava o som de um telefone antigo. Sophia Coppola, do outro lado da linha, perguntou em inglês: “Posso levar papai comigo?” Andrés Di Tella, organizador do festival que receberia a cineasta, titubeou. Hesitou, talvez tenha se beliscado para ter certeza de que não era sonho. “Claro, ele pode vir. Mas tem que dar uma palestra durante o evento.” A presença de Francis Ford Coppola, acompanhado de seus filhos Sophia e Roman, no primeiro Bafici, em 1999, foi destaque em todos os diários argentinos.

O Buenos Aires Festival Internacional de Cinema Independente (Bafici) começou, como o próprio Di Tella gosta de frisar, organizado por cineastas. Ao lado dele, a primeira edição contou com Eduardo Milewicz, que hoje mora na Espanha, e Esteban Sapir, diretor do seminal Picado Fino (1993), na coordenação do evento. O Bafici e o Festival de Cinema de Mar del Plata, reativado em 1996 depois de 25 anos, foram as principais pontas-de-lança do cinema argentino nos anos 90. Se o evento marplatense apresentou Pizza, Birra, Faso ao mundo em 1997, o primeiro Bafici levou ao público o segundo longa de Martín Rejtman, Silvia Prieto (1998), e Mundo Grúa (1999), filme de estreia de Pablo Trapero finalizado um dia antes da exibição.

O período marca o início do Novo Cinema Argentino (NCA), que na opinião de Di Tella, como na de muitos outros, é o momento de melhor qualidade na produção de filmes na história do país. E, também, um dos temas da entrevista a seguir.

Di Tella, 50 anos, não é apenas o criador do Bafici como também um dos principais cineastas argentinos. Entre seus colegas de geração, é o único de seu país presente no livro Cine Documental en América Latina, que reúne textos sobre os principais documentaristas da região. No Brasil, fez parte do júri do festival É Tudo Verdade de 2002, ano em que Um Passaporte Húngaro (2001), de Sandra Kogut, um filme que admira, recebeu menção honrosa.

O seu sobrenome soa familiar aos argentinos. Andrés é filho de Torcuato Di Tella, fundador do instituto que recebe o nome da família e que foi um importante local de encontro e fomentação aos artistas na Buenos Aires dos anos 60. A mãe, Kamala Apparao, de origem hindu, falecida em 1994, foi constantemente uma incógnita em sua vida. E a vergonha, a impossibilidade de falar com ela sobre suas origens, a grande motivação para realizar Fotografias – longa finalizado em 2007, em que viaja pela primeira vez à Índia.

Treze anos antes da viagem pessoal para conhecer as origens de sua mãe, Di Tella produziu um ensaio forte sobre a ditadura argentina. Montoneros, una Historia (1994) retrata o grupo que ganhou notoriedade ao responder à ditadura dentro de regras próprias. O documentário ia de encontro à maneira de se tratar a o período militar até então: era direto e não usava das metáforas caras ao cinema do país nos 80 e começo dos 90. Em um dos depoimentos mais fortes, um eletricista empregado em um centro de torturas urbano conta como optou por consertar um aparelho que dava choques nos presos, uma vez que o aparato que estavam usando no lugar causava um dano ainda maior.

Dos nove aos 14 anos, Di Tella morou em Londres, em que era visto pela sociedade como um garoto hindu. Viveria de 1973 a 1977 na Argentina, até que, estourada a ditadura militar, voltaria à Inglaterra, formando-se em Línguas Modernas e Literatura pela Universidade de Oxford. No final dos anos 80 e princípios dos 90, fez seus primeiros filmes, alguns deles para os canais de televisão britânicos Channel 4 e o estadunidense PBS, da época em que viveu por dois anos em Boston.

Hoje, mora em um confortável apartamento na Avenida Forest, em Belgrano, um dos bairros mais luxuosos da capital. Com ele, dividem a residência a sua esposa e os seus dois filhos. Com Rocco, o mais velho dos pequenos, divide a paixão pelos quadrinhos. Uma cristaleira na sala de estar exibe miniaturas dos personagens das Aventuras de Tintin ao lado de outros tantos bonecos e lembranças das viagens da família pelo mundo.  

Desde 2002, dirige o Princeton Documentary Festival, na universidade estadunidense em que também dá aulas de cinema latino-americano e que publicou, em 2006, o volume Andrés Di Tella: cinema documental y archivo personal: conversación en Princeton. Em 2008, a Cineteca Espanhola, en Madrid, e a de Catalunha, em Barcelona, realizaram retrospectivas de sua obra. Em maio, é a vez de Istambul, na Turquia, receber uma mostra com seus filmes. Em agosto, sai seu primeiro livro, Fotografías, um ensaio autobiográfico. A própria história também é tema do próximo projeto para cinema, como o título provisorio de La edad de la razón. Atualmente, Di Tella também escreve, junto con a esposa, Cecilia Szperling, a adaptaçao cinematográfica de Selección natural, romance de autoria de Cecilia a ser filmado en 2010.

No dia cinco de março deste 2009, o cineasta atualizou seu blog (www.fotografiasdeandresditella.com.ar) com um post sobre, justamente, Francis Ford Coppola – a seguir ele conta um pouco mais sobre a ida do diretor ao primeiro Bafici.  

(...)


*Presentación del largo reportaje (¡ocho páginas!) publicado en el último número de Juliette - revista de cinema.

foto: Rafael Urban

5 comentarios:

Anónimo dijo...

ochimo!
LUCIO

girlontape dijo...

qué copado!!!
(me doy cuenta que leo portugues)

Alejandra Almirón dijo...

Que linda es la tapa de la revista y el nombre también.
No me queda claro si entiendo el portugués.
Me mata lo de "hoy vive en un confortable apartamento de la calle Forest...", vaya manera minimalista de contar el presente de Papa-Doc.
Vas a colgar la entrevista? (parte de ella?)

Fotografías dijo...

Alejandra: Lo del presente es gracioso: como si estuviese ya en un dulce retiro hollywoodense, como si ya todo hubiese sucedido hace mucho... algo de eso habrá, tal vez...

La entrevista entera me parece que es muy larga para colgar --son ocho páginas-- sobre todo teniendo en cuenta que está en portugués.

Girlontape: ¡celebro que te hayas dado cuenta que lees portugués! Yo cuando trato de hablar italiano me sale portuñol...

Obrigado, Lucio! O era tante grazie?

Rafael Urban dijo...

Hola Andrés,
te agradezco de la publicación y por toda tu atención.

Saludos,
Rafael Urban
Revista Juliette
www.revistajuliette.blogspot.com