SYLVIA COLOMBO
de Buenos Aires
Na passagem mais marcante de "O País do Diabo" (1998), do argentino Andrés Di Tella, um velho índio ranquel conta como tentaram fazer com que se esquecesse da língua de seus antepassados para aprender o espanhol.
Era apenas um garoto, e seus professores lhe aplicavam golpes na cabeça com a ponta de uma régua.
Com olhar altivo, Manuel Cabral relata que aguentou a dor e resistiu à ideia. Aprendeu a se comunicar no idioma da maioria dos argentinos, mas conservou o ranquel na memória. Hoje, o ensina numa escola rural da província de La Pampa.
O filme, que integra a retrospectiva de Di Tella no festival É Tudo Verdade, traça a história da Campanha do Deserto, operação armada pelo governo argentino no século 19, na qual o Exército foi enviado ao sul do país, causando uma matança generalizada de várias tribos.
"Aconteceu há mais de cem anos, mas segue ocorrendo todos os dias. Os indígenas continuam a não poder ser indígenas. Nos consideramos um país europeu, mas 51% dos habitantes têm no mapa genético componentes indígenas", diz o diretor.
Di Tella acha difícil entender seu país hoje sem mexer nessa ferida. "Naquele tempo, os indígenas cumpriram o papel do outro, e o governo os pintou como inimigos para ganhar apoio", diz ele.
"Hoje se faz o mesmo, mas com personagens diferentes. Agora, o outro é o imperialismo estrangeiro, daí esse discurso combativo com relação às Malvinas", completa.
O filme guarda uma relação profunda com "Fotografias" (2007), no qual investiga suas próprias raízes, por meio da história da mãe, que veio da Índia.
"Eu era vítima de preconceito. Não sou indígena, mas filho de indianos. Me olhavam diferente", afirma.
Durante a investigação, Di Tella topou com a viagem do escritor Ricardo Güiraldes (1886-1927) ao Oriente. O filme mostra como o autor do clássico "Don Segundo Sombra" recebeu fortes influências de sua ida à Índia.
O festival trará também outras obras do diretor. Entre elas, "Macedonio Fernández" e "Montoneros, uma História" (veja abaixo).
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5 comentarios:
felicitaçoes!
Abrazos grandes y fellicidades!
Felicitaciones Andrés. ¡Abrazo!
PD. Si podés, pasá por el Museu do Futebol. Vale la pena.
gracias Firbinsky y Lucio! Me estás hablando en serio, Cancho?
Claro, siempre hablo en serio. pensaba que aún estabas en SP. Abrazo!
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